O dia ia
cinza. O homem ia cinza. Iam cinzas as ruas. Os prédios também, cinzas. A fumaça?
Cinza. Um punhado de cinzas se justificando no ar. As roupas todas cinzas, em
conjunto com as sarjetas, as calçadas, os mendigos. Cinzas iam as
crianças. As pedras iam cinzas, cinzas iam as esculturas. A chuva ia
toda cinza. Ia cinza a vida.
O dia ia
morto. O homem ia morto. Iam mortas as flores. Iam mortas as velas, as rezas,
os crucifixos. Ia morto o passo. O cortejo? Morto. Os lamento e pesares, motíssimos Ia morta a pá e o coveiro, as lápides e os canteiros. Iam mortas
as palavras. Se haviam sorrisos pode-se dizer que iam mortos. Iam mortas as
almas e os corpos, que se sustentavam vivos só para verem uns aos outros indo
mortos. Os sussurros iam mortos. O silêncio ia morto e mortas iam as
saudades. Ia assim a vida.