Só
queria escrever. Queria só formar palavras. Queria falar com as mãos, num
movimento único e descompassado. Queria deslizar o instrumento de
escrita, breve e forte, por todo aquele papel demarcado, saindo dos limites
inexistentes, pousando aqui e ali, sem saber onde. Queria que lhe implodissem o
cérebro em ideias e ideais sem compromisso. Queria sujar de grafite, de saliva, suor, sangue e lágrimas. Queria muito não querer coisa alguma pra
ver-se livre de tudo o que nem sequer prendia. Queria rasgar, perfurar,
triturar com o traço fino, físico, curvilíneo. Queria tentar. Tentava. Com afinco, num esforço
bruto e impassível. A testa franzida, os dedos apertados, dava voltas sem
sucesso por um caminho reto. E tentava ainda, sem conseguir resultado,
que aquilo desse certo. Só queria escrever. Mas querer não é poder. Admitiu a
derrota. Foi arranjar outra caneta, aquela estava sem tinta.