Eu prometo! Eu juro! Eu faço! Eu sei! Eu posso! Eu vou! Eu mesmo! Em mim! Por mim! Pra mim! Pra nós, eu acho. Eu quero o que você quer. Você quer, eu faço! Você precisa, eu dou! Você me escuta, eu falo! Você me apoia, eu pago! Você me aceita, eu ajo! Você me eleva, não caio! Você me vê, eu saio! Você me procura, eu não te acho! Nós colaboramos, eu falho! Você reclama, eu ralho! Você se proclama, eu reajo! Você diz "escândalo", eu abafo! Você mostra as cartas, eu embaralho! Você grita, eu embalo! Você protesta, eu ensaio! Você sofre, eu viajo! Você constrói, eu escangalho! Você trabalha, eu desmaio! Você diz povo, e eu, salário! É por você, só que ao contrário.
Nunca ninguém me ensinou a pensar, a escrever ou a desenhar, coisa que se percebe facilmente, examinando qualquer dos meus trabalhos. (Millôr Fernandes)
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Sobre andar a pé
Algo já se escreveu sobre isso. E acho sensato que se escreva, já que é preciso que alguém o valorize. Andar a pé. Não é só um pequeno ato comum como se imagina. Pelo menos é o que eu imagino. Requer tanta habilidade quanto dirigir, piscar e sorrir. Andar a pé é uma terapia de movimento, é um talento natural. Não precisa ser rotina, mas se for, que seja, e seja bem. Na correria do dia a dia, o andar a pé se tornou o ter pés pra andar e nada mais. Na calmaria do todo dia, o andar a pé é mais comum do que se deseja. Mas não há nada mais bonito que desejar andar à pé.
Bater a ponta, o calcanhar, o dedo, o peito e a planta do pé. Tudo no chão. Os passos alheios e próprios marcam um ritmo constante, bem como a batida do coração, é só tentar ouvir. Pode-se ir de um lugar ao outro com muita facilidade hoje em dia, mas nada é mais fácil que andar a pé. O solo não é sua cama, mas ele conforta a horizontal de seus pés como uma. E não se deve acordá-los tão depressa. Deixe os dormir em movimento, enquanto anda a pé. E enquanto anda a pé, delicie-se.
Delicie-se com o azul, o rosa, o vermelho-poluição, o cinza e o negro do céu. Delicie-se com o branco, o chumbo, o transparente das nuvens. Delicie-se com o calcário, o cimento, a rocha e a areia dos prédios. O vidro, a vida, a vista. Delicie-se com os transeuntes ocupados e com os nem tanto assim. Delicie-se com as delicias do andar a pé, de sentir o sangue correndo e pulando, de correr e pular também. Delicie-se com o poder caminhar, o poder enxergar, o poder. Delicie-se com o desejar que todo mundo também pudesse.
Ande a pé. Dê ao pé a chance de andar. E ao fazer isso, comemore. Caminhe como nunca fez antes, até cansar, e quando cansar dê risada do cansaço. Fique lá até a exaustão e se permita relaxar enquanto anda. Andar a pé é digno de quem sabe fazer. Não precisa de tanta maestria nem tanta simplicidade. Coloque os pés ali e acolá, um a frente do outro e ande. Preste atenção em como os outros o fazem e se orgulhe de sabe-lo também. E quando vir alguém suspeito, andando a pé em sua direção com expressão ofensiva como quem quer te subtrair algo, aí então, corra.
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