segunda-feira, 12 de março de 2012

Telefonema

 Diálogo 2


-Alou quem fala?
-Sou eu meu camarada!
-Seria quem eu estou pensando?
-Se for eu, então seria sim.
-Mas há quanto tempo!
-Sim, saudosa alegria de conversar novamente contigo, amigo!
-E olha que digo o mesmo! Senti saudades!
-Não mais que eu, posso apostar (e risada).
-E como não! Estava inda agora, ou há algum tempo, tanto faz, imaginando por onde andava o caro! Senti amargas faltas.
-Pois eu digo ao amigo que é impossível que tenha sentido mais faltas que eu. E digo ainda mais, que continuo as sentindo.
-Julga o camarada que sou mentiroso? Pois olha que digo a verdade e ela é grande!
-Mas não coloque palavras onde não cabem! Nunca disse nada disso, se bem me parece que quem julga o outro por engabelador é o companheiro...
-E tem a audácia? Nunca que diria algo assim. Pois saiba o digníssimo que senti saudades da camaradagem, mas parece que o camarada não é o mesmo, se é o que percebo!
-Diz-me então de falso? Ora bolas, mais essa. Se quer saber, falsidade é o que escuto passando pela linha! Deixe de ser recalcitrante!
-Recalcitrante eu? Pois o senhor que me vem com conversas fiadas e rompe toda a beleza da ligação que vim fazer. E não ligo mais, saiba desta outra!
-Que não ligue! Saudades de antítese personificada é que não vou sentir. Onde já se viu algo assim? Passar bem.







(Inspirado em "Prazer em conhecê-lo", de Carlos Drummond de Andrade)

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